domingo, 4 de novembro de 2012

Meu coração está em pedaços, estilhaçado e inconsolável. Um sopro de caos que vai fechando qualquer dos caminhos que eu tente seguir, depois de sobreviver a um fortíssimo tornado.
Meus pés estão totalmente concretizados e enraizados no chão árido. Regados pelas lagrimas que caem como chuva e os mantém bem alimentados. O vento é a única coisa me faz sentir vida mesmo, viva! Com os olhos abertos, esforço-me para não refazer os meus dias de forma sensorial. Eu consigo só ir mais além quando estão fechados e são também fechados que encontro o conforto.
Mentalizar os bosques, as florestas e as matas faz-me imaginar como são seguras e fortes as árvores, e a partir dai foi como pular de um trampolim ao encontro da paz de espirito e para tranquilizar meu coração, pensar nas árvores torna-se um vicio. Entao passei a isolar o mundo real e encarar a vida de uma maneira fantasiosa, dai então minha identidade é uma arvore.
Sem nenhum remorso por parar no mundo, o bem que contribuo ao mundo é o mesmo que de mãe para filho: o aleitamento.
Consigo sentir a brisa a entranhar pela minha pele, pelo meu corpo todo, penetrando e desfigurando o meu corpo, e é expandindo os meus membros que meus braços formam galhos viçosos saindo de toda parte dos braços. Pomposas são as minhas folhas e como todo meu corpo transmudou tornei-me crente que sou uma arvore, forte, dura e tão segura dessa verdade, que para mim ficou fácil endurecer até o meu coração, resguardado para nunca mais sofrer com ilusão amorosa, decepção ou compaixão...
Se antes de descobrir a filosofia da arvore, não existisse outra saída, descreveria o meu desespero como se estivesse numa fuga em um labirinto de muros bem altos, e meus problemas que de pouco em pouco iam inundando até cobrir o nível máximo dos paredões. Por sorte havia algo que me transmitia vida, movia. Algo que me dava reflexão. Teu nome é: Vento.
E foi através dele, quando eu parei loucamente de procurar a saída dos meus problemas e realmente presa ao chão e cada dia criando mais e mais raízes, nutrida de sofrimento e desgostos do passado para aliviar as dores que causavam cada vez que as raízes dolorosas entranhavam na terra, cedi ao vento que não só movesse a minha vida, naqueles tristes momentos em diante, mas que movimentasse como um balanço de ninar... Vem em mim e leva contigo a minha dor.
E de fato aconteceu. Vou aos poucos então me envolvendo com o que ainda me fornece vida, nesse caso o Vento. A cada dia era como se fosse sempre a primeira vez, e tudo isso era como se fosse feito um ritual às divindades, com início, meio e fim. Mesmo alongado o fim com o deleite de um bis no final, eu e o Vento, o Vento e eu, fazemos assim durante muito tempo o que suponho ter sido um intenso romance de adolescente. Permitia uma doação na totalidade, desde a minha vida a minha existência da alma e também matéria. Para ele nunca neguei ou limitei que ele se entranhasse em mim, nas minhas folhas, galhos e troncos, mesmo que depois da sua passagem o que sobrava do coito era uma desfiguração que espantava a vaidade e enobrecia ao mesmo tempo que impressiona, como se pudesse reconstituir novamente um corpo humano.
A extensão do percurso do Vento passou a me fazer falta, pois ele seguia e eu estava parada, porque sem coragem do seguir e sem força para o conter, nada podia fazer apesar de estar presente constantemente as oscilações causavam-me mais e mais ainda necessidade do Vento.
Eis que um dia despertei ainda mais ciente da carência, morta, que acabada de ganhar vida e bem viva, estava como se estivesse presa no inferno por anos e anos, e libertada num imenso paraíso a poucas horas, desesperada e muito mais necessitada do que dantes, sair em busca do Vento. Como não era de costume corri contra a rota dele antes de transmudar, girei fortemente para atrai-lo mais depressa, e nada estava no exacto local dos últimos encontros porém fui muito mais cedo e desejosa para ser coberta imediatamente pelo seu frescor.
Foi quando cansada de esperar adormeci como toda menina dorme em véspera de Natal, e ao abrir os olhos percebi que era algo barulhento em forma de cone, molhado e frio que se aproximava. Girava tão rápido que até arrepiava, causava calafrio ao mesmo momento que assustava, pois era anunciado com luzes fortes e um barulho violento, não dava para ver exactamente o que era porque nunca tinha visto nada igual, tem corpo espesso no centro mas não como o Vento que conheço muito bem, até pensei em ser o vento mas não estava como antigamente. E rapidamente fechei os olhos e como de costume me doei para aquilo, mas alguma coisa estranha e aumentava cada vez mais, seja o que for que se passava a cada segundo aumenta cada vez mais as dores das minhas raízes, ardia e quando entranhavam em mim estilhaços cortava minha pele. Alguns penetravam, sufocantes e insuportável pela primeira vez não transmudei e ainda dolorida lutei para evitar que penetrasse mais cacos em mim. Estava a sentir que as lascas do meu corpo rangiam como se lasca lenha. Uma violação sem dó, com a intenção de matar pois com certeza com aquela força já não se podia, e se eu fosse mesmo uma árvore presa no chão não teria chance alguma de evitar a minha morte, até as folhas que foram violentamente lançadas contra a mim batiam tão depressa que a cada uma que tocassem davam a sensação de picada e perfuração, como um ferro quente no meu corpo; como a cidade de Pompeia invadida por lavas de vulcão.
Mas, ainda bem que estava viva e lutando para sobreviver, dai entendi porque, estava a voltar o sofrimento novamente. Uma tortura disfarçada de carinho, voltei a reviver tudo outra vez, sendo que se eu fosse realmente uma árvore e ele o Vento, não tinha a noção que o inimaginável pudesse não mais sentir dor, mas era física dos dois lados; viver do mesmo jeito seria insuportável, torturante e ainda por cima seria em vão fazer comparação assim.
Estou certo de que viver não era arriscado, bem...
O que jamais imaginei acontecer, aconteceu e afinal aprendi que o problema não tinha acessado em mim, mas transferido para outra posição e com isso saliento, com ele e eu, ou arvore e o Vento, a vida tem estacões e para cada três meses uma forma de viver e viver em harmonia...

By Tecco Ribeiro

1 comentário:

  1. Esse texto foi muito bem elaborado, sou leiga para fazer críticas mas ele me deu a oportunidade de compreender e refletir, é um texto que na minha opinião deve ser lido por todos que visitarem este blog e me dou o direito de dar nota dez! Parabéns!

    ResponderEliminar

Então, nada a declarar?